Como continuar estimulando um profissional a dar o melhor de si após um período de insegurança coletiva, sem garantias de empregos e nem mesmo de sobrevivência? O que sabemos é: não será possível ignorar a pandemia e o papel da gestão humana após esse período não será o mesmo.
Para entender melhor isso, iremos mostrar o rumo que a gestão humana tomava antes da Covid-19 e o que mudou. A teoria dos dois fatores de Herzberg servirá de apoio para (1) entendermos empresarialmente o fenômeno pelo qual estamos passando e (2) para propor que postura a gestão humana deverá assumir quando saímos do isolamento social.
A última década foi de tremenda importância para a gestão humana empresarial. Esta área se tornou protagonista no crescimento das empresas. Isso porque foi percebido que toda organização é composta por pessoas e que possuir um setor que pense especialmente no desenvolvimento individual e coletivo desses profissionais melhora o desempenho da corporação.
Recorrendo à teoria de Herzberg, podemos dizer que a gestão humana esteve dedicada a fatores motivacionais nessa última década. E o que isso significa? Significa que o foco da gestão humana era estimular e desafiar as pessoas a produzirem mais, encontrando formas de associar esse aumento da produtividade com aumento de satisfação individual. Isso pode ser traduzido em ações como planos de carreira, investimentos em cursos de aperfeiçoamento e de autodesenvolvimento, desafios em trabalhos por projetos, job-rotation, promoções internas, entre outras. Em resumo, a gestão humana estava dedicada à habilidade de fazer com que o desenvolvimento profissional configurasse uma forma de realização pessoal.
Com a chegada do Covid-19, a crescente da economia freou, as pessoas estão em casa, comércios e profissionais autônomos pararam e há outros que estão arrecadando menos. O que é certo é que todos ganharam novas preocupações: a não garantia de emprego e de salário, o medo da doença, o medo pelos mais velhos e, principalmente, o medo de como será quando as coisas voltarem a funcionar.
Se antes as pessoas se perguntavam “o que fazer para crescer profissionalmente?” ou “o que fazer para ser uma pessoa realizada consigo mesma?”, agora o mundo todo se questiona “o que fazer para SOBREVIVER?”. Assim que voltarmos a trabalhar presencialmente, é preciso que a área de gestão humana ampare nossos medos, preocupações e insegurança. Isso porque antes de desafiar alguém a dar seu melhor, essa pessoa precisa estar livre de preocupações com questões mais essenciais, de sobrevivência.
Após a pandemia, a gestão humana precisa rever sua postura. Esse setor deve identificar e buscar soluções para garantir necessidades básicas dos colaboradores como a manutenção dos seus empregos e dos seus salários, bem como fortalecer o valor humano nesse processo de reconstrução organizacional.
Estudiosos apontam que a Covid-19 não deixará de circular após a pandemia. Portanto, para esse momento, valorização humana pode estar pautada em medidas de proteções básicas, tais como: adaptação física do ambiente de trabalho para o distanciamento seguro entre as pessoas, a desinfetação periódica desse ambiente e dos equipamentos de manuseio e a disponibilização de álcool gel para os funcionários.
Por fim, será que, além de saber lidar com o pós-pandemia, a gestão humana pode trazer algo de positivo dessa experiência a ser trabalhado no ambiente corporativo? O isolamento social, a necessidade de conscientização das pessoas e a dependência de ações solidárias deve, no mínimo, fazer com que todos nós pensemos mais no modo como nossas ações afetam as outras pessoas e a comunidade em que vivemos. A gestão humana pode e deve utilizar desse aprendizado social também para tornar o ambiente organizacional um lugar mais consciente, humano e coletivo. Por hora, se cuidem e fiquem em casa se puderem.